Não
se engane o leitor e eleitor: tudo que venha ser carimbado com a expressão “secreto”
na vida pública ou está eivado de crimes de toda ordem e não pode ser
publicizado sob pena de comprometer os envolvidos, ou não presta e pode
arruinar, ainda mais, o pobre do cidadão contribuinte. Essa parece ser uma
regra sem exceções.
Burlá-la
significa padecer. A primeira vez que se ouviu a expressão “emendas secretas”
ou, burocraticamente, RP9, todos aquelas pessoas que prestam um pouco de
atenção sobre os acontecimentos de nossa triste
República, não tiveram dúvidas: aí estava mais uma maracutaia
patrocinada, sempre na calada da noite e
em convescotes, por nossos ladinos representantes políticos.
Aliás,
a própria eleição do atual presidente da Câmara dos Deputados, um nome que
trazia em sua bagagem curricular uma capivara invejável e que foi sagrado vencedor
sob uma avalanche de denúncias de compras de votos e consciências, prenunciava
que os dias que viriam no comando do Legislativo em nada agradariam os
brasileiros que prezam pela ética na coisa pública.
Deu
no que deu. E dará no que dará. Depois de arruinar a Lei de Responsabilidade
Fiscal, entre outros cometimentos erráticos, a atual Mesa da Câmara Baixa
pressionou o governo pelos aumentos tanto do Fundo Partidário quanto do Fundo
Eleitoral, obtendo êxito parcial, mesmo ante os gravíssimos problemas
enfrentados pela nação, castigada pelo desemprego recorde, inflação e queda no
Produto Interno Bruto (PIB).
Tudo
isso depois de uma pandemia avassaladora que dizimou mais de meio bilhão de
cidadãos. Insatisfeito com a política de terra arrasada ou blitzkrieg,
patrocinada por grande parte dos políticos, tanto da oposição quanto do
Centrão, dentro daquelas manobras malandras que lhes são peculiares, resolveram
promover as tais emendas de relator, conhecidas como orçamento secreto.
A
coisa virou escândalo somente depois que a notícia chegou aos ouvidos dos
brasileiros, graças ao trabalho investigativo de uma parte da imprensa que não
é bem-vinda pela elite política. Até então, tudo corria como o planejado por
debaixo dos panos. Com a porta arrombada, tanto o Supremo Tribunal Federal
(STF) quanto o Tribunal de Contas da União (TCU), que nunca sabem de nada ou
fingem não saber, tiveram, supostamente a contragosto, que entrar em cena,
exigindo medidas de correção.
Nos bastidores, sabia-se que boa parte dos R$ 17 bilhões, escoados secretamente, estavam lavados e branqueados em mãos de alguns deputados que, simplesmente, embolsaram a fortuna para engordar o próprio patrimônio.
Um
desses traquinas foi flagrado, inclusive, pela Polícia Federal, contando maços
de dinheiro em seu bunker no Maranhão. Dinheiro, advinha de onde? O pior é
constatar que nesse tipo de tramóia, num país decente, seria suficiente levar
todos os envolvidos para detrás das grades. Aqui, ainda é apoiado por boa parte
dos parlamentares nas duas Casas.
Mais
tenebroso é constatar que, entre esses embusteiros, muitos são da atual base
política do governo, comungando, inclusive, na mesma legenda, à qual o
presidente aderiu recentemente. Para espanto de todos, menos daqueles que estão
atolados nessas trapaças, o dito deputado, flagrado contando a dinheirama
desviada da saúde de seu Estado, ainda tem a cara dura de se apresentar como
pré-candidato ao governo do Maranhão, contanto, inclusive, com o apoio do chefe
do Executivo. Estamos em maus lençóis ou algo pior.
CB,
5 de dezembro de 2021, caderno Opinião, p.13. Coluna Visto, lido e ouvido. Por
Circe Cunha// circecunha.df@dabr.com.br