A
modalidade da educação a distância não é nova. Há registros do século passado,
mostrando sua aplicação em países desenvolvidos. Aqui no Brasil, é que as
coisas sempre foram lentas. Ainda hoje se questiona o seu emprego, por uma
justificativa altamente discutível: o medo da pilantragem. A oficialização da
EAD enseja dois tipos de receio: a) a falta de cuidado no credenciamento das
instituições; b) o facilitário na concessão de diplomas. São preocupações que
não devem inibir o processo. Não podemos admitir que sejamos definitivamente
incapazes de levar a sério esse tipo de experiência pedagógica ou qualquer
outro.
Escola
portátil, conteúdo personalizados, aulas virtuais: o futuro da (nova) educação
está bem delineado. Para fazer a tecnologia melhorar o ensino, falta viabilizar
as velhas questões trazidas pelo passado, como infraestrutura, formação de
professores e verba. A educação a distância cresceu mais que a presencial na
última década. As tendências para o futuro incluem um modelo híbrido de
aprendizado: parte convencional atuando junto com a parte on-line, praticados
nos cursos EAD.
A
educação se tornará onipresente. Boa parte das escolas vai caber nos
dispositivos móveis, tornando possível respeitar o ritmo de aprendizagem de
cada aluno. Caberá ao professor de amanhã o papel de curador, escolhendo os
conteúdos, os meios e fazendo a conexão entre eles. Os problemas para a
incorporação da tecnologia pela escola brasileira são as falhas na
infraestrutura e na formação docente.
Um
dos tradicionais obstáculos à realização dos programas pensados é a escassez de
recursos financiados. Há um discurso na praça afirmando que não é esse o maior
dos nossos problemas. O que pesa no processo é a falta de qualidade
operacional. Cita-se com maior exemplo, no caso do magistério, o fato
comprovado de que melhores salários não são determinantes de uma grande
mudança. Se os salários fossem dobrados, nem por isso a qualidade seria
estabelecida de imediato. Isso depende de uma série de fatores, alguns até
bastante complexos.
Hoje,
os investimentos na função educação alcançam 6,3% do Produto Interno Bruto.
Deveriam chegar a 10% em escala nos anos seguintes. São recursos dignos de
países industrializados, mas o que nos impacienta é que não se sente um
adequado planejamento sobre o que vem por aí. Qual o milagre que se espera para
acabar com os 13 milhões de analfabetos adultos hoje existentes? O que fazer
para que a educação infantil deixe de ser prioritária só nos discursos e passem
a existir as creches, tantas vezes prometidas ? O ritmo de trabalho do PAC não
nos deixa muito otimistas.
Enquanto
o número de matriculados em cursos presenciais de formação de professores no
Brasil se manteve estável nos últimos cinco anos, as matrículas nos cursos a
distância cresceram em ritmo acelerado. Um em cada três alunos de graduação na
área de educação faz o curso remoto, de acordo com dados do governo. Em
pedagogia, especificamente, a taxa é maior: metade dos estudantes está
matriculada em cursos a distância. As informações são do último censo do Ensino
Superior disponível, de 2014.A procura por cursos de formação de docente a
distância foi estimulada por lei. Há 20 anos , a LDB (Lei de Diretrizes e Bases
da Educacão) tornou obrigatória a formação em ensino superior para professores
da educação básica. Como muitos docentes já davam aula sem diploma
universitário, o curso remoto acabou sendo uma boa opção ̶ a
maioria dos alunos de curso à distância no Brasil trabalha e estuda ao mesmo
tempo.
Na
verdade, a educação a distância ganhou força no Brasil, justamente por causa da
necessidade de formação dos professores. Com o tempo, os cursos a distância
foram se expandindo para além das licenciaturas. O número de matriculas em
cursos na área de educação à distância cresceu 26,71% nos últimos cinco anos.
Já os presenciais de formação de docentes tiveram aumento de 0,12%.
Correio Braziliense, 22
de agosto de 2016.
*Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de
Letras, da Academia de Letras de Brasília e presidente do Ciee/RJ.
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