ENTREVISTA
/ MARCOS PINHEIRO
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Trinta
anos de Cult 22, o que mudou musicalmente nesse período?
Muita
coisa. O rock foi se multifacetando com o tempo. Do progressivo, punk e
pós-punk que predominavam por aqui nos anos 1970 e 1980 , a cena brasiliense
ganhou novas sonoridades já na década seguinte com o crescimento de estilos
mais pesados (hardcore e heavy metal em variadas vertentes), do indie rock e
das misturas com música brasileira, rap ou Black music em geral e eletrônica.
Podemos dizer que essa diversidade continua presente na atual geração: ouve-se
de tudo um pouco nas novas bandas ou nas antigas que se mantiveram na ativa.
A
cidade perdeu o protagonismo nacional? Bandas como Scalene e Joe Silhueta
mantêm a diversidade roqueira da capital?
O
rock perdeu há algum tempo o protagonismo entre os jovens. E, para piorar,
Brasília sofre regularmente com a carência de palcos para o som autoral, já
que, grande parte dos bares, pubs e espaços prefere apostar no que pode dar
retorno financeiro e de público – ou seja, em bandas/ artistas cover ou
tributos. Mas isso não significa, de forma alguma, que não tenhamos mais bons
nomes de rock na cidade. Pelo contrário: a cena continua rica e diversa, porém
se ressente de maior visibilidade. E, logicamente, a baixa do rock na mídia
nacional afeta demais. O Scalene se tornou o principal representante dessa nova
geração e conseguiu se apresentar em grandes festivais como Rock in Rio e Lolapalooza,
por exemplo. Conquistou muitos fãs pelo país, mesmo não tendo músicas tocando
frequentemente nas rádios. O Joe Silhueta é uma das maiores revelações locais
dos últimos anos em seu resgate dos psicodelismo mesclado a elementos
tropicalistas e merece ganhar mais espaço nacional.
Gêneros
como o sertanejo, o funk e até a pisadinha conquistaram o público jovem, como o
rock se insere nessa disputa de fãs?
O
rock tem perdido de goleada, infelizmente. Claro que esses movimentos são
cíclicos e não concordo com a história de que o gênero “morreu”. Continua aí há
quase 70 anos, e, volta e maia, dá um contragolpe nos críticos e céticos.Mas é
fato também que faltam representantes internacionais de maior relevância para
tentar reverter esse quadro. Na última década, em minha opinião, não surgiu
nada que tenha despertado atenção maior da mídia e a paixão do público. Tem
ótimas bandas, mas estão praticamente todas no uderground.
O
Cult 22 tem uma programação especial para este fim de semana. Como tudo
começou?
Sim.
Vamos comemorar os 30 anos do programa ao longo do mês de outubro com uma série
de cinco programas especiais reunindo atuais e antigos colaboradores, que vai
ao ar todas as sexta-feiras, das 21h às 23h, pela Rádio Cultura FM (100.9MHz) e
pela Radio Web Cult 22 (www.cult22.com),
canal online que oficializamos no início de 2019. E, também vamos promover
cinco festas virtuais todos os sábados, das 20h as 2h, com um total de 30 DJs, transmitidas exclusivamente
pela radioweb. Devido às limitações ainda impostas pela pandemia, foi o que
pudemos fazer até termos mais segurança para voltar com mais força aos eventos
presenciais. O Cult 22 estreou em 4 de outubro de 1991, como objetivo de tocar
o rock de todos os tempos e estilos. Afinal, se Brasília tinha a alcunha de
capital do rock, precisava ter no mínimo um programa abrangente no gênero. Foi
um projeto que começou comigo e com o jornalista Carlos Marcelo e que fizemos
juntos até 1996. Devido aos compromissos profissionais, ele precisou se
afastar, mas decidi continuar.
Você
também é produtor, lançou coletâneas com bandas brasilienses, quais você
destacaria?
Acho
que a coletânea mais emblemática lançada pelo Cult 22 foi a Cult Cover Demo.
Foi uma fita K7 lançada em outubro de 1993, por ocasião dos então dois anos do
programa, que reuniu 12 bandas de Brasília fazendo versões de livre escolha.
Teve de Mata Hari cantando The Velvet Underground a Raimundos, tocando Leandro
e Leonardo. De Pravda reinterpretando Fábio Jr. a The Succulent Fly mandando
Joy Division. De Low Dream acelerando uma balada de Tracy Chapman a DFC
pervertendo The Cure ─ entre outros. Foi um marco para a cena do rock de
Brasília da época. E ainda teve o CD Unculted, compilação acústica que saiu no
fim de 1995, com quatro nomes locais, com direito a faixas extras de Pato Fu e
Viper. Essas gravações e de outros lançamentos do programa estão disponíveis
para audição e download em nosso site/blog. www.cult22.com.
Quais
bandas novas você destacaria?
Além
do Joe Silhueta, já comentado, e do próprio Scalene, gosto de Maria Sabina
& a Pêia, Laika, Lupa, Rios Voadores, Almirante Shiva, Passo Largo,
Mitsein, RoliMan (projeto novo do veterano Carlos Pinduca), Azzrok, Centropia,
Ops, Adriah, Os Gatunos, Consuelo, Signo 13...Isso só para citar os que se
revelaram de 2010 pra cá e estão na ativa. Outros nomes bacanas encerraram
atividades nesse período de pandemia ─ ou resolveram “dar um tempo” ─, tais
como Dona Cislene, o Tarot e Alarmes. Todos são bons exemplos do quanto ainda é
rica nossa cena musical.
Fonte:
CB, 30/09/2021, caderno Diversão&Arte, p. 23. Jornalista José Carlos Vieira
https://drive.google.com/file/d/1-ekqOm-fYCjxeYv9G1j1SZyWopWYWZxW/view?ths=true
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