Modelo
para o mercado.
"O modelo atual não prepara para nada, por isso nossos ganhos e produtividade são baixos”
Professora
do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), Débora
Barem acredita que os jovens chegam ao mercado de trabalho com diversas
carências da época da escola. Se o Projeto de Lei (PL) nº 6840/2013 virar
realidade, os problemas não serão todos resolvidos, mas há chances de melhorar
estruturas consideradas antigas, na visão do docente. “A opção de cursar uma
formação técnica concomitantemente é boa, pois as empresas e indústrias
precisam de profissionais com preparo técnico, e essas pessoas sairão da escola
com uma profissão de interesse delas”, diz.
A especialista
em mercado de trabalho cobra ainda uma postura mais ativa dos próprios
estudantes, que “não devem apenas esperar que a escola os ajude ou prepare para
a vida e a carreira”. Coordenadora pedagógica do Colégio Notre Dame, Patrícia
Jardim concorda com o alerta e garante que uma boa formação só se realiza com o
interesse de quem assiste às aulas. “A escola dá as ferramentas, mas o aluno
precisa fazer a parte dele”. Ela acredita que o ensino integral é bem-vindo,
mas existem duas realidades distantes. “Na rede particular em geral, existe
estrutura para turno integral; o que não acontece na pública”.
Problema
reiterado por Janaína Moreira, diretora do Centro de Ensino Médio (CEM) Setor
Leste, na 611/612 Sul. “Não tem como o aluno ficar o dia inteiro, se não temos
laboratórios, por exemplo”. Formada em química, Janaína acredita que a mudança
é bem-vinda. “Os jovens se sentiriam mais estimulados, pois estudariam o que
gostam, sem deixar de saber das outras matérias, o que poderia diminuir o
índice de reprovação e evasão”, diz. A preocupação da diretora é que os
estudantes ainda não estejam maduros o suficiente para tomar decisões.
Preparação específica?
A
partir do PL nº 6840/2013, Reginaldo Lopes (PT/MG) defende que o ensino médio
não seria necessariamente mais voltado para o mercado de trabalho, mas, com
certeza, teria maior foco no aluno. “Ele dá ao estudante o protagonismo de
escolher um itinerário formativo, de decidir o que quer estudar mais a partir
do que pretende fazer”, afirma. A possibilidade não mudaria os passos para
entrar no técnico ou no ensino superior: mesmo que a formação tenha uma ênfase,
todos os concluintes estarão aptos a optar por qualquer um dos dois caminhos, pois terão estudado os
conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O percentual de material
que caberá à base e que ficará livre para ênfase ainda não foi definido, mas
Reginaldo Lopes é favorável de que a proporção seja de 70% e de 30%.
“Educação
é investimento. Se aplicarmos 10% do PIB em educação, teremos a solução”, disse
Lopes quando questionado sobre o impacto orçamentário das mudanças. “O
currículo atual está desconectado até do passaporte para o futuro, que é o Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio), que se baseia em áreas do conhecimento”.
Marcelo Feres, ex-secretário de Educação Profissional e Tecnológica, avalia que
o ensino técnico alia tecnologia e formação para uma carreira, enquanto o
ensino médio é muito conteudista e explora mais a ciência. Ele defende que a
educação, no geral, não precisa ter como maior foco o mercado de trabalho. “Não
podemos ser estritamente utilitaristas. Precisamos investir em conteúdos
básicos, mas é preciso dar condições de que os alunos tenham opções”.
Para
atender o mercado de trabalho, o diretor de Operações do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai), Gustavo Leal, acredita que é importante o
investimento no ensino fundamental, para que os jovens cheguem bem ao ensino
médio. “É nessa segunda etapa que serão reforçados os alicerces lá de trás”.
Não visão dele, os conteúdos não precisam ser voltados ao trabalho , pois, “se
os estudantes aprenderem bem matemática, português e o inglês, terão uma base
para alternativas de futuro”. João Batista Araújo Oliveira ocupou cargos em
organismos nacionais e internacionais, foi secretário-executivo do MEC (1995),
é fundador e presidente do Instituto Alfa e Beto , ONG promotora de políticas
práticas de educação que priorizam a alfabetização, e defende que a preparação
para a carreira é importante.
“Temos
que preparar para o mercado de trabalho e não para a universidade. Ensino
superior não é de massa porque não tem nem vaga para tudo isso. O modelo atual
não prepara para nada, por isso nossos ganhos e produtividade são baixos”. Ele
lista uma série de lacunas no ensino médio, mas acredita que o PL 6840/2013 não
é o caminho para saná-las. “Essa proposta atende interesses corporativistas
para assegurar número de horas- aula. O PL é escrito para acomodar vários
interesses. Precisamos de uma lei clara assegurando a diversificação de opções;
21 leis emendaram a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira), não
será mais uma que resolverá”, critica. O mais importante para ele é melhorar o
investimento para que meninos e meninas aprendam bem português e matemática.
Fonte: Correio Braziliense,
18 de setembro de 2018. Caderno Trabalho, p. 4.
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